Os Motores da Fórmula 1 São V6 ou V8?
Desde a temporada de F1 de 2025, os motores de Fórmula 1 são unidades de potência híbridas V6 turboalimentadas de 1.6 litro, com dois motores elétricos: MGU-K e MGU-H.
Mas esse simples fato é apenas a ponta de um iceberg tecnológico. A história do motor moderno da F1 é uma fascinante saga de inovação, regulamentação e busca implacável por desempenho, que viu o esporte fazer a transição dos rugidos estrondosos dos motores V10 e V8 para os complexos e hiper-eficientes híbridos da atualidade.
Nem sempre foi assim, e o som dos motores da F1 evoluiu dramaticamente ao longo dos anos. A atual era dos V6 é a mais tecnologicamente avançada até agora, mas para entendê-la verdadeiramente, precisamos explorar como chegamos aqui, por que a mudança foi feita e o que o futuro reserva para o auge do automobilismo…
A Era de Ouro dos V8 e V10: Um Rugido Nostálgico
Para muitos fãs antigos da Fórmula 1, o período do final dos anos 1990 até 2013 representa uma “era de ouro” do barulho dos motores e da potência bruta e inalterada. Esta era foi dominada primeiro por motores V10 de 3,0 litros e, posteriormente, por V8 de 2,4 litros. Esses motores naturalmente aspirados eram renomados por seus gritos icônicos de alta frequência ao atingir valores de rotação impressionantes, por vezes superiores a 19.000 RPM.
A era dos V10, que durou até o fim de 2005, é frequentemente lembrada pela verdadeira sinfonia sonora e pela dominância de fabricantes como Ferrari e Renault. Esses motores produziam uma potência impressionante, chegando perto dos 1000 cavalos nas suas últimas versões, sem o auxílio de turbocompressores ou sistemas híbridos. Eles eram monumentos à engenharia pura de combustão interna, priorizando desempenho absoluto acima de tudo.
Em 2006, os regulamentos mudaram, obrigando o uso de motores V8 de 2,4 litros numa tentativa de reduzir velocidades máximas e custos. Embora menores e com dois cilindros a menos, os V8 mantiveram a violência sonora que se tornara marca registrada do esporte. Girando até 18.000 RPM (inicialmente 19.000), esses motores ainda produziam cerca de 750 cavalos. Foi a era da dominação inicial da Red Bull com motores Renault e o capítulo final de uma Fórmula 1 movida puramente à combustão. O som era uma característica definidora — um grito penetrante que proporcionava emoções viscerais aos fãs nas arquibancadas e era parte essencial da experiência televisiva. Um espetáculo cru e mecânico que celebrava os extremos da combustão interna.
A Revolução Híbrida: Entendendo o “Porquê”
A mudança dramática dos amados V8 para os atuais motores híbridos V6 turboalimentados de 1.6 litro em 2014 foi uma das alterações regulamentares mais significativas da história da Fórmula 1. Esta não foi uma decisão tomada levianamente e foi motivada por uma série de fatores que objetivavam reposicionar o esporte para o futuro.
Relevância para o Mercado: No início da década de 2010, a indústria automobilística passava por uma mudança sísmica em direção à hibridização e redução de tamanho dos motores. Fabricantes de carros importantes, que investem centenas de milhões em seus programas de F1, precisavam de uma ligação mais clara entre a tecnologia de pista e os veículos de showroom. Os V8 naturalmente aspirados, altamente especializados, tinham pouca semelhança com o rumo dos carros de produção. Ao exigir tecnologia híbrida, a Fórmula 1 tornou-se novamente um laboratório de alta velocidade para o desenvolvimento de sistemas de recuperação de energia, baterias e motores turboalimentados de menor cilindrada e mais eficientes — inovações que poderiam de fato ser aplicadas aos carros das ruas.
Eficiência de Combustível e Sustentabilidade: O mundo tornava-se cada vez mais consciente do meio ambiente, e a Fórmula 1, com sua reputação de alto consumo, precisava se adaptar. Os motores V8 eram notoriamente vorazes, consumindo combustível a taxas altíssimas. Os regulamentos de 2014 introduziram um limite rigoroso de fluxo de combustível e um máximo de 100 kg por corrida (antes eram cerca de 160 kg). Isso forçou os engenheiros a deixar de lado a busca por potência bruta e focar em maximização da eficiência térmica. A unidade de potência moderna da F1 é uma maravilha da engenharia, convertendo mais da energia do combustível em potência do que quase qualquer outro motor de combustão já criado, com eficiência térmica superior a 50% (comparado a 30% nos antigos V8).
Avanço Tecnológico: A Fórmula 1 sempre foi sobre ultrapassar os limites do possível. A fórmula V8, embora popular, havia atingido uma maturidade tecnológica. As regras híbridas apresentaram um novo e incrivelmente complexo desafio para os melhores engenheiros do mundo. Foi a chance de redefinir o que poderia ser um motor de corrida, integrando sofisticados sistemas de recuperação de energia com um motor de combustão reduzido para criar uma nova geração de “unidade de potência”. Este desafio atraiu novos fabricantes e reacendeu a competição tecnológica que está no DNA da Fórmula 1.
A Moderna Unidade de Potência da F1: Além do V6
Chamar simplesmente o motor atual da F1 de “V6” é pouco. Trata-se de um sistema altamente integrado de seis componentes principais, conhecido coletivamente como Unidade de Potência.
- Motor de Combustão Interna (ICE): No coração está um motor V6 de 1.6 litro com ângulo de banco de 90 graus e injeção direta de combustível. Limitado a 15.000 RPM, as equipes raramente passam de 12.000-13.000 RPM em prática para otimizar eficiência e confiabilidade. O ICE sozinho é responsável por uma grande parte da potência total.
- Turboalimentador (TC): Ao contrário dos V8 naturalmente aspirados, o atual V6 utiliza um turboalimentador que usa gases de escape para girar uma turbina — que por sua vez aciona um compressor. Este insere mais ar no motor, queimando mais combustível1 e gerando mais potência a partir de baixa cilindrada.
- MGU-K (Unidade Geradora-Motora – Cinética): Começa aqui o aspecto “híbrido”. Conectada ao virabrequim, atua como gerador na frenagem, recuperando energia que seria perdida em calor e a armazena. Na aceleração, age como motor, fornecendo até 160 cavalos extras diretamente ao virabrequim.
- MGU-H (Unidade Geradora-Motora – Calor): A parte mais complexa da unidade de potência. Conectada ao turbo, converte calor dos gases de escape em eletricidade (para bateria ou MGU-K) e também atua como motor, girando o turbo para eliminar o “lag”. Garante resposta instantânea ao acelerador.
- Armazenamento de Energia (ES): Bateria de alto desempenho que armazena a energia elétrica recuperada pelo MGU-K e MGU-H, usada pelo MGU-K para impulso adicional.
- Eletrônica de Controle (CE): O cérebro do sistema. Gerencia todo o funcionamento entre os componentes, decide quando recuperar energia, liberar, controlar combustível, e mantém o sistema operando em harmonia.
Juntos, esses componentes produzem mais de 1.000 cavalos de potência — igualando ou superando os V10 antigos, com uso de muito menos combustível.
O Futuro é Elétrico (e Ainda com Motor): Um Vislumbre de 2026
A Fórmula 1 não para. Uma nova era regulatória está programada para 2026, representando mais uma evolução na jornada tecnológica do esporte. As novas regras buscam tornar o esporte mais sustentável, relevante e atrativo para novos fabricantes — já conquistando a entrada da Audi e a parceria entre Ford e Red Bull.
Principais mudanças para 2026:
- Aumento da Potência Elétrica: A balança do desempenho se inclinará mais para a eletricidade. O ICE gerará menos potência, enquanto o MGU-K terá saída elétrica quase três vezes maior que as atuais.
- Remoção do MGU-H: A complexa e cara unidade de calor será eliminada, reduzindo os custos e complexidade da unidade de potência, incentivando novas entradas e simplificando a tecnologia.
- Combustíveis 100% Sustentáveis: A mudança mais significativa: uso de combustíveis totalmente sustentáveis, criados a partir de biomassa, resíduos ou captura de carbono — tornando o motor de combustão neutro em carbono. Alinha-se com as metas globais de transporte sustentável.
Essas alterações afetarão as corridas. Os carros dependerão mais da energia elétrica para ultrapassagens e o som dos motores mudará novamente — infelizmente, o retorno dos gritos agudos dos V8 não está nos planos.
Análise oferecida por JunkCarsUs, um dos principais recursos para estimar custos de conserto de motores fundidos e avaliar veículos danificados.
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É novo na Fórmula 1? Veja nosso Glossário de Termos de F1 e nosso Guia para Iniciantes na Fórmula 1 para acelerar seu conhecimento.
FAQs sobre Motores da F1
Por que a F1 abandonou os V8?
A Fórmula 1 deixou os motores V8 principalmente para alinhar o esporte à direção da indústria automotiva global, focada em motores menores, mais eficientes e híbridos. Os motivos principais foram: maior eficiência de combustível, sustentabilidade e relevância tecnológica para carros de rua.
A F1 voltará aos V8 algum dia?
Apesar da saudade dos fãs, um retorno a essa fórmula de motor é altamente improvável no futuro próximo. O esporte e os fabricantes estão comprometidos com o caminho híbrido e com os regulamentos de 2026 que visam maior potência elétrica e combustíveis 100% sustentáveis. Voltar a um motor naturalmente aspirado seria um grande retrocesso frente a esses objetivos.
Qual motor será usado na F1 em 2026?
A partir de 2026, a F1 usará uma nova geração de unidades de potência híbridas. Continuarão com o motor V6 turbo de 1,6 litro, mas com um componente elétrico muito mais potente (MGU-K) e combustíveis 100% sustentáveis. O MGU-H será eliminado.
Quantos cavalos tem um carro de F1?
Um carro moderno de Fórmula 1 possui mais de 1.000 cavalos de potência — soma do motor de combustão V6 de 1,6 litro com a energia elétrica dos sistemas híbridos (MGU-K e MGU-H).
Traduzido do artigo original em inglês “Are Formula 1 Engines V6 Or V8?“